Sunday, October 11, 2009

"Otaku ocidental não consome nada!"

Olha um quarto de Otaku japonês!

Nesta semana que passou foi essa a afirmação que eu mais ouvi de algumas empresas por aí, mas vou usar uma em especial como exemplo pra esse texto. No mês que vem o querido canal Animax feito para os fãs de animes (vulgo Otaku) vai passar por uma reformulação. Deixará de ser um canal especialmente de animes e vai incluir outros programas, músicas e até seriados em sua programação. É nada mais de “Só animes!” ou músicas pop japonesas em seus intervalos. O público do canal em geral ficou chocado, e já andou cogitando inúmeras razões para essa mudança radical na direção da Sony em relação ao Animax, sendo uma delas a de que o canal não anda lá bem das pernas. E quer saber a verdade? O Animax não anda bem das pernas mesmo e sabe porque? Porque eles chegaram a mesma conclusão de muitas outras empresas que investem nesse mercado de que “Otaku ocidental não consome nada”! E se ele não gasta dinheiro pra que um canal como esse exista, então porque continuar investindo nisso, certo?

Infelizmente chegamos a conclusão de que há muito se falava: de que os próprios fãs acabariam com esse mercado. E realmente é isso que estamos fazendo. Detonamos com tudo o que era oficial. Os canais de tv que costumavam investir nesse tipo de produção estão parando de fazer isso, as empresas de produtos relacionados ao assunto também os estão deixando de lado.

Eu acredito que a causa seja o fato de o fã ocidental de animação japonesa ser um cara (ou uma mina!) formado na internet. Na minha época de fã, eu me lembro de gastar fortunas com cards, VHS, mangás e produtos que lembravam o que eu mais gostava (que era Dragon Ball!). Os fãs que evoluíram depois de mim também gastavam comprando DVDs e outros produtos. É só nos lembrarmos de Cavaleiros do Zodíaco, dos mangás que vendiam muito, dos DVDs que foram um sucesso, dos Cloth Myth, dos produtos para festas, fantasias para crianças, etc.

American Goku!

Infelizmente, a nova geração de fãs está bem longe de gastar com estas coisas. Ele vê tudo pela internet, consome mangás escaneados e traduzidos, baixa jogos piratas e não tá nem aí pro que vá acontecer daqui pra frente.

E falando em Animax, TODOS os canais do mundo inteiro vão sofrer a mudança radical com EXCEÇÃO do Japão onde deverá continuar o mesmo porque lá o povo consome e muito. É quase impossível estando no Japão ficar sem comprar um chaveiro, um adesivo ou até mesmo cantar no karaokê as músicas da modinha.

E aqui a galera se contenta em baixar tudo de graça, não consome quase nada e ainda reclama que isso tá caro, que aquilo tá caro e assim vai. Sabe qual é o novo alvo deste “novo” Animax? Aqueles garotos “pseudo-alternativinhos” que a galera tende a chamar de geração MTV. Um cara que trabalha e tem entre os seus 16 e 18 anos e gasta uma boa parte do salário em bugigangas e coisas bacanas do mundo pop. Tem um amigo meu que define a MTV como uma coisa engraçada, algo assim: “O cara que assiste esse canal, ele fuma maconha e quando chamam e maloqueiro fica com raiva, ao mesmo tempo em que gasta a grana do pai com coisas idiotas e quando é chamado de Boy fica com raiva também. Ou seja o cara é meio hype, meio playboy”. Essa não é a minha opinião, hein! Que fique bem claro isso! Mas deu pra notar que é pra esses caras que as novas empresas estão mirando no futuro, o cara adolescente que ganha um troco e é guiado pela modinha. Aliás, eu acho que sempre foi assim. Temos que reconhecer. O único problema é que talvez a moda do anime tenha acabado no resto do planeta com execeção do Japão.

O cara das novas modinhas é o tipo de pessoa que vai consumir no lugar dos “fãs de anime” que não se importam o suficiente com o mercado porque se formaram na época do Free, a teoria onde tudo que vem da web tem que ser de graça. E o fã de anime de hoje é internauta mesmo. Até porque ele não fica sabendo de mais nada fora desse meio, já que por aí andam parando de se falar sobre o assunto.

Será que há uma solução para que vocês não sejam abandonados por aí?

Os games também sofrem por isso. Eu estou trabalhando em uma editora agora e dentro de um núcleo de games. Já, já, vocês ouvem falar de mim por aí. Por enquanto mantemos o sigilo…rs..

Pesquisando sobre o que estamos fazendo eu resolvi entrar na internet e ler o que os caras dizem sobre a revista que é publicada pela editora que eu trabalho e comecei a ouvir opiniões muito ruins sobre o assunto e tem um tópico chamado: “A decadência das revistas de games” que fala como as revistas de games são desatualizadas no mercado, como não vale a pena gastar uma grana com elas e como tem gente que compra só pra ser saudosista, não porque realmente curta e tal. Eu li e fiquei super chateado, mas depois eu pensei: “Po, mas não é pra esse cara que tô querendo criar alguma coisa! Esse cara lê as notícias da web e baixa tudo pirata. Definitivamente não é ele quem vai gastar 10 pilas na minha revista”. E tenho que confessar que já pensei nisso também, mas sei que não posso esquecer você, “cara maluco que acha que as revistas têm que acabar”, mas tenho que lhe dizer uma coisa da mesma forma que alguém me disse, sinceramente, espero que na hora certa, você dê a chance de ver o que anda chegando ao mercado. De repente você pode se surpreender.

Tem que haver uma maneira de se criar um meio-termo entre revista e internet algo que nos últimos 5 anos grandes editoras achavam que não existia, mas existe sim. Anos atrás, revistas gigantescas e tradicionais como a Gamepro e a Electronic Gaming Monthly pararam suas publicações porque tudo o que eles faziam era facilmente encontrado na internet. Como eu disse antes, a internet tornou a procura por informações infinitamente mais fácil. Então como resolver isso? A solução está em fazer aquilo que não existe na web em integrar um conteúdo que junte tanto o fã da net quanto o das revistas. Todo mundo sabe que isso é possível, mas é tão mais complicado! Com pouca grana e muito esforço, logo qualquer jornalista perde o pique e passa a copiar tudo da internet porque é o jeito mais simples. Já no meu caso, eu quero que o cara copie da minha revista e jogue na rede! Faça o inverso!

Esse pensamento é maluco, mas ele existe! Basta olhar para uma publicação de games gigantesca como a japonesa Famitsu, por exemplo! Ela tem as suas páginas escaneadas toda a semana na web e suas notícias correm o mundo através de seu site. Você não iria querer comprar algo assim? Quando eu estava no Japão, gastei uma boa grana comprando a Famitsu. Eu ficava tão feliz toda a semana porque sempre tinha algo novo e estando por lá eu sabia que era um dos primeiros brasileiros do planeta a saber o que rolava.

Pensando nisso, eu fico alucinado! Parece um trabalho de gente louca porque é muito grande e eu não ganho o suficiente para isso (aliás no cenário de games nacional, ninguém ganha!). De qualquer maneira, se eu não conseguir, pelo menos devo ter a sensação de que eu tentei..rs..

E qual não foi a minha surpresa ao olhar nas bancas da Av. Paulista e perceber que a revista americana Gamepro está de volta as bancas… E depois disso, resolvi dar uma olhada na web e descobri que a Electronic Gaming Monthly retornará em dezembro e pelas mãos do criador Steve Harris!… Olha só o site deles: http://www.egmnow.com/

Poxa, se as tradicionais americanas estão voltando, talvez uma tradicional brasileira também possa renascer não acham?

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